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E tudo começou há 75 anos

OK, intrepid one! Eu sei muito bem que a gênese dos Quadrinhos no Brasil remonta há bem mais do que 75 anos; na verdade data do final do século 19, precisamente, ao dia 30 de janeiro de 1869, quando o abolicionista ítalo-brasileiro Angelo Agostini publicou “As aventuras de Nhô Quim ou impressões de uma viagem à corte”, subdividida em nove capítulos, na revista Vida Fluminense.
Sei também que Agostini produziu quadrinhos até antes de “Nhô Quim...”, só que esta, depois, seria considerada a estréia oficial das HQs brasileiras, devido à importância histórica da figura do autor – além de ser a primeira HQ em série com um mesmo personagem.

Disso tudo eu comentei em meu livro A Saga dos Super-Heróis Brasileiros (Opera Graphica, 2005), além de que, em 11 de outubro de 1905, o ilustre jornalista Luiz Bartolomeu de Souza e Silva lançou (pela editora O Malho), O Tico-Tico – considerada por muitos estudiosos, a mais importante revista infantil brasileira, devido a seu pioneirismo no segmento editorial.

Mas foi só em 1934, portanto, há exatos 75 anos, com a estréia do Suplemento Juvenil (do Grande Consórcio Suplementos Nacionais) que os leitores daqui conheceram de fato uma genuína publicação de histórias em quadrinhos – já que O Tico-Tico trazia em suas páginas diversas outras apresentações para a gurizada, que não apenas Quadrinhos, como passatempos, contos e jogos.

O Suplemento foi idealizado pelo jornalista Adolfo Aizen após uma viagem que fez aos Estados Unidos em 1933. Ao visitar os estúdios do King Features Syndicate, distribuidor de várias tiras em quadrinhos aos jornais americanos, ficou boquiaberto com o sucesso delas e decidiu transportar o negócio para terra brasilis.

O Suplemento fazia parte do jornal A Nação, e se chamava originalmente Suplemento Infantil na sua estréia em 14 de março; mas a partir de sua 14ª edição (20 de junho), passou a “voar” sozinho nas terças, quintas e sábados, colorido e num formatão tablóide.

Além de trazer histórias de heróis americanos publicadas em jornais, como Flash Gordon, Príncipe Valente e Jim das Selvas, o Suplemento Juvenil também abriu espaço para personagens nacionais, caso de Roberto Sorocaba, de autoria de Monteiro Filho. Não podemos esquecer também de inúmeras obras de vários autores brasileiros como Carlos Arthur Thiré (marido da atriz Tônia Carrero), Renato Silva, André Le Blanc, Belfort e Sálvio Correa entre outros.

O sucesso do Suplemento Juvenil era tanto, que sua tiragem chegava a 360 mil exemplares por semana (juntando-se as três edições semanais). Em 1935, surgiria a paulistana A Gazetinha, publicada por Cásper Líbero – o mesmo editor do jornal A Gazeta – e, em 12 de junho de 1937, seria a vez de O Globo Juvenil de Roberto Marinho, circular ao custo de 200 Réis.

Esses tablóides circularam pelo resto da década, mas em paralelo, seus editores passaram a investir no formato revista (com grampeamento no meio do caderno) que era mais prático de manusear, guardar e, claro, saía mais em conta – afinal, eram os tempos de guerra, e uma crise econômica atingia o mundo ocidental como um todo.

E assim como nos EUA que, aos poucos, substituiria os pulps (revistas de contos policiais e de aventura) pelos emergentes e mais atraentes comic books, o mercado editorial brasileiro logo se viu invadido pelas revistinhas apelidadas de "gibi" – nome de uma publicação de sucesso de Marinho. Em 18 de maio de 1945, Aizen fundou a Editora Brasil-América (a hoje saudosa EBAL) e investiu de vez no formato revista.

Embora edições tablóides como O Globo Juvenil continuassem a circular até meados da década seguinte, a certeza é que, com o cancelamento do pioneiro Suplemento Juvenil, caracterizou-se de vez o fim de uma era dourada de nossa história editorial, e da imprensa como um todo. Uma história muito bonita que teve início há 75 anos.

© Copyright Roberto Guedes.

Comentários

Gerson_Fasano disse…
Guedes, excelente lembrança da data. Eu tenho alguns (poucos mesmo) números de cada publicação mencionada (Vida Fluminense e O Malho não...), e sempre fiquei pensando em como naquela época a tiragem era excepicional, sem contar várias e várias hqs que nunca foram republicadas, sem contar que eram a cores. Uma hq que eu sempre tive vontade de ler completa é "Roberto Sorocaba".

Foi um excelente início, com certeza.
Anônimo disse…
Meu caríssimo Guedes

Agora você foi fundo e mexeu com o coração de "nosotrosos", como dizem nossos "hermanos" aqui de Latinoamerica.
Realmente, tudo que você disse procede e é correto.
Na verdade você citou coisas que meu pai disse para mim, naqueles momentos maravilhosos em que ele me apresentou aos quadrinhos.
Aliás, acho que já disse isso pra você, não disse?
Abração

Cesar
Outro excelente artigo...belo histórico. Gostei muito de ver a menção a Angelo Agostini. Eu tenho a edição do Senado Federal que resgatou a publicação NHO QUIM & ZÉ CAIPORA. Coisa de gênio. O Brasil, definitivamente é um dos precursores das HQ'S.
Anônimo disse…
Guedes, bom dia!

Muito boa a lembrança, mas por que não uma figura nacional daquela época ao invés do Príncipe Valente? É duro, né? Tu escreves a matéria e meto o "bedelho".

Valcir
Sandro Marcelo disse…
Olha eu de volta, Guedão eagora trabalhando!!!! Consegui um emprego, torçam por mim!

Genial a matéria sobre os primórdios quadrnísticos do Brasil!!! Parabéns! Você consegue nos deixar com esse gosto de nostalgia no coração!!!
Anônimo disse…
Boa Guedes! Não me despertou memórias, pois não conheci este maytrial citado, mas deu uma baita saudade do tempo em que as coisas eram mais simples...
Andre Bufrem
Anônimo disse…
Grande post, Guedão ... muito boa lembrança ...

Ótima matéria.

Abração.

Paulo Ricardo
Anônimo disse…
Muito bem lembrado Guedes. E uma data tão redonda deve passar em branco...

Gonçalo
Anônimo disse…
Oi, Roberto!

Parabéns pelo texto!

Abraço.

leandro
Roberto Guedes disse…
Leandro, Gonçalo, Paulão e Bufrem: obrigado pelas mensagens! Ainda estamos no começo do ano, então quem sabe mais homenagens ao Suplemento surjam pela frente, não é?

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Sandrão, parabéns e boa sorte no novo trampo!

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Fala, Valcir! Tem mais é que comentar mesmo, chapa. Pensei em colocar alguma capa do Suplemento, mas estou de computador novo e ainda não instalei o scanner. No improviso, taquei uma imagem do Príncipe Valente - o personagem preferido de Adolfo Aizen.

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André, de certa maneira, a sua mensagem complementa a do Gérson. Ou seja: assim como reeditaram "Nhô Quim", poderiam reprisar "Roberto Sorocaba", não?

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Cesão, você comentou sim, estou lembrado. Seu pai entendia do riscado.

Abraços saudosistas a todos os chapas!