A imagem ao lado é da história "In the hands of the hunter!" de Amazing Spider-Man 47 (abril de 1967). Sem dúvida, trata-se de uma das minhas edições preferidas do Cabeça-de-Teia de todos os tempos (e talvez, seja uma das suas também). E por várias razões. Tais quais:
1ª – Provavelmente, é a HQ mais "alto astral" do Homem-Aranha daquele período.
2ª – Flash Thompson, o mala-sem-alça, foi convocado para lutar no Vietnã, e a turma – mais especificamente, a doce Gwen Stacy – decide fazer uma festa de despedida para o exibido da Universidade Empire State.
3ª – Os chapas Harry Osborn e Peter Parker passam de carro na casa das garotas (e rivais), Gwen e Mary Jane, a fim de levá-las à balada – e os casais aqui, em pouco tempo se inverteriam.
4ª – Durante as minhas incontáveis leituras dessa história, sempre imaginei que música estaria rolando durante a festa. Por acaso seria um novo disco dos Beatles ou dos Rolling Stones?
Sei lá... 1967 foi o ano da ruptura do Rock 'n' Roll tradicional, quando o psicodelismo entrou de sola no cenário musical internacional com o lançamento do álbum Sergeant Pepper’s Lonely Heart Club Band dos Garotos de Liverpool. Daí que, vendo o modo como o pessoal dança (principalmente pelo requebrado da loirinha – WOW!), fico com a nítida impressão de que a trilha a imperar na vitrola está mais para o Twist do bom e velho Chubby Checker do que para qualquer coisa mais “ácida” - se é que estou sendo claro...
E mais: provavelmente, o burguês Harry fosse o dono dos discos, e, por estar longe da praia hippie – por todos os motivos óbvios ou não – ainda fosse um súdito do então moribundo Hully Gully (ritmo de batida dançante de meados dos anos 1960).
Well, mas como eu li essa pérola clássica da Marvel pela primeira vez aos 10 anos, em 1976 (faça as contas, ó intrepid one) – no formatinho em cores Homem-Aranha 19 da Bloch Editores –, quando a novela Estúpido Cupido era simplesmente a referência nacional retro dos sixties, aposto mesmo em "Let's Twist Again" como o embalo sonoro do bailinho.
5ª – O desenhista John Romita, aos poucos, deixava de emular o estilo de seu antecessor Steve Ditko, e seu traço assumia a forma pela qual definiria o visual da revista pelos anos seguintes, tornando-a o best seller do mercado americano de Comics.
6ª – O script de Stan Lee, formidável como sempre, proporciona momentos antológicos, como no diálogo inspiradíssimo entre o editor ranzinza J. Jonah Jameson e o jornalista Frederick Foswell:
JJJ - Espero que o Kraven acabe com ele! (com o Aranha)
FF - Mas o Aranha não é o mocinho?
JJJ - Diga isso mais uma vez e você volta a cobrir concurso de bolo!
7ª – Ah, e toda boa história de super-herói tem, por obrigação, de contar com a presença de um, ou neste caso, de dois vilões da pesada. A saber: Kraven, o Caçador; e o famigerado Norman Osborn (quando este ainda era um personagem interessante), vulgo Duende Verde.
Como dica a quem possa interessar, essa aventura foi publicada anteriormente no Brasil pela EBAL, e doravante, pela Editora Abril. Pode procurar o gibi em sebos, mas é bem provável que o encontre por um precinho meio salgado. O negócio, então, é esperar que a Panini a reprise num dos futuros volumes da Biblioteca Histórica do Aranha – coleção de edições luxuosas que compilam histórias antigas em ordem cronológica, com impressão em papel especial no miolo, e capa dura com lombada quadrada. Material pra colecionador.
Uma última curiosidade: na década de 1990 fizeram uma HQ em que o personagem Deadpool voltava no tempo e interferia no andamento dessa história. Apesar do tom cômico e surreal, achei um sacrilégio mexerem num dos verdadeiros clássicos do universo aracnídeo. Mas vá lá! Paciência. Fico por aqui – antes de ser acusado de exagerado – com a terna lembrança da infância, de uma história formidável e muito bem escrita e desenhada.
Daquelas com personagens cativantes, e um herói inigualável!
Tá falado!
© Copyright Roberto Guedes
Este texto, divulgado originalmente na lista de bate-papo Marvel BR em dezembro de 2007, foi revisado, ampliado e atualizado pelo próprio autor.
1ª – Provavelmente, é a HQ mais "alto astral" do Homem-Aranha daquele período.
2ª – Flash Thompson, o mala-sem-alça, foi convocado para lutar no Vietnã, e a turma – mais especificamente, a doce Gwen Stacy – decide fazer uma festa de despedida para o exibido da Universidade Empire State.
3ª – Os chapas Harry Osborn e Peter Parker passam de carro na casa das garotas (e rivais), Gwen e Mary Jane, a fim de levá-las à balada – e os casais aqui, em pouco tempo se inverteriam.
4ª – Durante as minhas incontáveis leituras dessa história, sempre imaginei que música estaria rolando durante a festa. Por acaso seria um novo disco dos Beatles ou dos Rolling Stones?
Sei lá... 1967 foi o ano da ruptura do Rock 'n' Roll tradicional, quando o psicodelismo entrou de sola no cenário musical internacional com o lançamento do álbum Sergeant Pepper’s Lonely Heart Club Band dos Garotos de Liverpool. Daí que, vendo o modo como o pessoal dança (principalmente pelo requebrado da loirinha – WOW!), fico com a nítida impressão de que a trilha a imperar na vitrola está mais para o Twist do bom e velho Chubby Checker do que para qualquer coisa mais “ácida” - se é que estou sendo claro...
E mais: provavelmente, o burguês Harry fosse o dono dos discos, e, por estar longe da praia hippie – por todos os motivos óbvios ou não – ainda fosse um súdito do então moribundo Hully Gully (ritmo de batida dançante de meados dos anos 1960).
Well, mas como eu li essa pérola clássica da Marvel pela primeira vez aos 10 anos, em 1976 (faça as contas, ó intrepid one) – no formatinho em cores Homem-Aranha 19 da Bloch Editores –, quando a novela Estúpido Cupido era simplesmente a referência nacional retro dos sixties, aposto mesmo em "Let's Twist Again" como o embalo sonoro do bailinho.
5ª – O desenhista John Romita, aos poucos, deixava de emular o estilo de seu antecessor Steve Ditko, e seu traço assumia a forma pela qual definiria o visual da revista pelos anos seguintes, tornando-a o best seller do mercado americano de Comics.
6ª – O script de Stan Lee, formidável como sempre, proporciona momentos antológicos, como no diálogo inspiradíssimo entre o editor ranzinza J. Jonah Jameson e o jornalista Frederick Foswell:
JJJ - Espero que o Kraven acabe com ele! (com o Aranha)
FF - Mas o Aranha não é o mocinho?
JJJ - Diga isso mais uma vez e você volta a cobrir concurso de bolo!
7ª – Ah, e toda boa história de super-herói tem, por obrigação, de contar com a presença de um, ou neste caso, de dois vilões da pesada. A saber: Kraven, o Caçador; e o famigerado Norman Osborn (quando este ainda era um personagem interessante), vulgo Duende Verde.
Como dica a quem possa interessar, essa aventura foi publicada anteriormente no Brasil pela EBAL, e doravante, pela Editora Abril. Pode procurar o gibi em sebos, mas é bem provável que o encontre por um precinho meio salgado. O negócio, então, é esperar que a Panini a reprise num dos futuros volumes da Biblioteca Histórica do Aranha – coleção de edições luxuosas que compilam histórias antigas em ordem cronológica, com impressão em papel especial no miolo, e capa dura com lombada quadrada. Material pra colecionador.
Uma última curiosidade: na década de 1990 fizeram uma HQ em que o personagem Deadpool voltava no tempo e interferia no andamento dessa história. Apesar do tom cômico e surreal, achei um sacrilégio mexerem num dos verdadeiros clássicos do universo aracnídeo. Mas vá lá! Paciência. Fico por aqui – antes de ser acusado de exagerado – com a terna lembrança da infância, de uma história formidável e muito bem escrita e desenhada.
Daquelas com personagens cativantes, e um herói inigualável!
Tá falado!
© Copyright Roberto Guedes
Este texto, divulgado originalmente na lista de bate-papo Marvel BR em dezembro de 2007, foi revisado, ampliado e atualizado pelo próprio autor.
Comentários
Requebra, loirinha!
Saudades...
Bons tempos... principalmente pelo Normam.
Abraço.
Andre Bufrem
Hoje estou num senso nostálgico e a lembrança de uma HQ de outrora do Aranha, você me trouxe e fez-me transportar para aquele lugar. Senti-me dançando junto ao pessoal. Hoje, durante o expediente, ouvi Duran Duran, A-HA, The Police e o gótico, amado, The Cure, além do Juck Barry (acho!).
Valeu!
Valcir
Parabéns pelo texto!
Abraço!
Leandro
Abs!
Dola
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Paulo, há quem goste da aventura do Deadpool, mas eu, particularmente, não gostei não, chapa.
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Leandro, valeu!
Valcir, curtir uma nostalgia logo cedo é bom, hein?
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Satisfaction, André? Bom palpite!
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Dá saudade mesmo, Borba!
Abraços aracnídeos pra todos!
Agora, olha que incrível... antes de terminar de ler tudo que você escreveu eu pensei na música "Let's Twist Again", quando vi o casal do quadrinho do meio dançando (não dá pra ler na tela e identificar).
Aí, lá pra frente, você fala da mesma música. Só posso concluir que era essa mesma.
Dancei muuuuiiiito essa música naquela época, Intrepid One!
Abração do
Cesar
ANDRÉ PORTOCARRERO
Já te falei que você conhece bem essa turma aracnídea? rsrs
Ainda não li essa história. Estou esperando a sequência da BHM HA. Na verdade, meu sonho como colecionador é ter toda a fase Lee/Ditko, Lee/Romita - foram quantas edições esse período, Guedes?. E espero ansioso por ASM 33.
P.S.: Não importa quantos retcons façam, Gwen SEMPRE será "A" garota!
Abraços!
Wendell, o passional!
Ditko desenhou a origem em Amazing Fantasy 15 e as edições de ASM do 1 ao 38 (+ os 2 primeiros anuais). Romita ficou mais tempo, por cerca de 6 anos, a partir de ASM 39.
O que aconteceu é que, por ser muito requisitado por Stan para cuidar de outros afazeres, depois da edição 56 ou 57, mai ou menos por aí, Romita passou a contar com a ajuda de outros artistas, como Jim Mooney e Don Heck, que desenhavam em cima de seus esboços, para depois, Romitão definir o traçado final.
Houve um pequeno período em que a arte ficou a cargo de John Buscema, e depois, Gil Kane assumiu o lápis. Essa fase, que corresponde à morte de Capitão Stacy e vai até pouco depois das mortes de Gwen e Duende, lá pela casa dos 120, contou com edições inteiras feitas por Romita, outras em que apenas arte-finalizou, e, ainda, algumas em que redesenhou painéis e páginas inteiras de Kane.
Tudo isso, sem falar das capas, praticamente todas de Romita, além do co-planejamento das histórias com Stan, e posteriormente com Gerry Conway em seu início.
E mesmo com a entrada de Ross Andru (ASM 125), Romitão continuou a mexer na arte, para manter o padrão visual do título.
Isso perdurou pelo resto da década de 70, quando, então, assumiu - por cinco exaustivos anos - as tiras de jornais do aracnídeo com Stan.
Romitão ainda desenhou o anual 3, enquanto o 4 e 5 foram desenhados por Larry Lieber (irmão de Stan).
Do 6 ao 9, só reprisaram histórias.
Stan escreveu até ASM 110 + os 5 primeiros anuais; e Conway, de ASM 111 até a edição 149. A 150 foi escrita por Archie Goodwin, mas é importante, pois traz o fim da saga do clone original.
Acho que esse período todo pode ser considerado como "clássico" e indispensável para os aracnofãs.
Valeu chapa!
Bom, então falta pouco! Brincadeira. Ainda tenho que adquirir muita história do Aranha, mas um dia chego lá!
Cara, quando você falou nas capas do Romitão, me lembrei na hora de ASM 50. Essa capa diz muito quem é Peter Parker, não? Eu adoro essa história!
Abraços!
Wendell, o aprendiz!
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Wendell, a capa de ASM 50 realmente é antológica!
Abraços festivos e aracnídeos pra todos os moradores de Forest Hills!
https://www.youtube.com/watch?v=TlTKhPkZSJo
https://www.youtube.com/watch?v=594WLzzb3JI
E agora, em qual deles devo acreditar?!?