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Neal Adams: uma carreira que quase não começou

Um dos nomes mais famosos dos Quadrinhos mundiais! Dono de um estilo fotográfico dos mais imitados. Polêmico, de espírito ativista, com fortes posições quanto ao papel do desenhista no mundo de negócios que é o mercado americano dos Comics. Criador visual de vários personagens marcantes como Deadman, Morcego-Humano e Destrutor, é também considerado por muitos como o artista definitivo de Batman. Por essas e outras torna-se interessante notar que a gloriosa carreira de Neal Adams correu o risco de ser abortada logo em seu início há 50 anos.

É isso mesmo, intrepid one! E eu explico!

Assim como outros garotos da década de 1950, Neal Adams foi um fervoroso leitor das revistas de terror da EC Comics. Seus desenhistas preferidos eram Wally Wood, Jack Davis e Al Williamson. O gosto pela arte o fez matricular-se na School of Industrial Arts. Foi quando se convenceu de qual profissão queria abraçar: a de desenhista de Histórias em Quadrinhos (embora as pessoas mais velhas o desencorajassem dessa idéia, alegando que os quadrinhos eram um subproduto cultural, uma literatura vulgar, além de um ramo ingrato que pagava muito mal). Ele dava de ombros, e seguia em frente, certo de que venceria no meio.

Em 1959, Adams finalmente se formou, e, orgulhoso, levou seu portfólio à DC Comics – que vinha reconstruindo sua linha de super-heróis desde 1956, com a criação de um novo Flash (Barry Allen). Mostrou algumas páginas que fizera do personagem espacial Adam Strange, e conforme comentou anos depois “Eu nem gostava dele, mas queria impressionar o pessoal!”.

Assim como no tempo de escola, um funcionário da editora tentou persuadi-lo a desistir de HQs. Adams teve a sensação de que no comicdom havia uma espécie de “clube fechado”, de “panelinha”, em que apenas os veteranos tinham vez.

Só que marrento e determinado, não se intimidou tão fácil, e acabou por bater na porta da Archie, outra editora de porte. O pessoal não gostou de sua versão quase realista de seus personagens cômicos, mas após algum tempo, publicaram seu primeiro trabalho profissional em Archie’s Joke Book Magazine 41, em setembro de 1959 – mesmo sendo apenas uma página.

O novato insistia para que mostrassem seus desenhos do super-herói The Fly – que aqui no Brasil chegou a ser publicado pela La Selva como “O Mosca” –, ao seu criador Joe Simon (o mesmo do Capitão América). O veterano editor reconheceu a perícia do garotão, mas imaginava que era um desperdício para ele tentar viver de Comics, que passavam por um período negro na ocasião. Quem gozava de mais prestígio eram os quadrinistas de tiras e páginas dominicais dos jornais, pois, em geral, essa produção não estava associada ao público infantil e nem era considerada um produto descartável.

Contrariado, Simon utilizou um painel do jovem artista na quarta edição de Adventures of the Fly, mas fez questão de alertar Adams, por meio de uma conversa telefônica que “Olha, vou te fazer o maior favor da sua vida. Sei que não achará assim, mas a verdade é que terei de rejeitá-lo. Vai por mim... você não quer fazer quadrinhos! Você é moço, tem um futuro brilhante pela frente, e a pior coisa que eu podia fazer por você é te dar um gibi pra desenhar. Arrume um bom trabalho, seja um diretor de arte. Você é muito talentoso!”

Neal compreendia as boas intenções de Simon, só que de boas intenções o inferno já estava cheio. E, graças a Deus (!), não lhe deu ouvidos.

© Copyright Roberto Guedes

Este texto é um pequeno trecho do artigo de 12 páginas “Com vocês... Neal Adams!”, publicado originalmente no álbum Batman – A Noite do Ceifador (Opera Graphica, outono de 2003) e foi revisado e atualizado pelo próprio autor.
Amigo, se você é fã de Neal Adams, responda a enquete (localizada na lateral desta página) “Qual foi o melhor trabalho de Neal Adams nas HQs?”, e depois envie sua mensagem comentando o texto acima e, caso queira, o voto também.

Comentários

Anônimo disse…
Adams é um dos meus desenhistas preferidos, ao lado de Gil Kane e John Buscema.
Votei no Batman.
Anônimo disse…
O Simon deu uma de amigo-da-onça, não é? hehehe
Carlos
Anônimo disse…
Roberto

Sou suspeito em comentar sobre o trabalho do Neal Adams, na minha opinião seu maior trabalho como desenhista esta nas tiras do Ben Casey (por aqui foram publicadas segundo alguns comentarios na Folha de São Paulo na decada de 60 - eu nuca vi nenhuma tira nacional, conheço o material publicado da publicação americana semanal Menome Falls Gazete, este material tambem foi publicado em duas ou tres edições da Linus italiana que chegou a ser distribuida por aqui).

Nestes trabalhos vemos um Adams criativo a cada dia querendo se superar, como ele mesmo declarou ao ver seus trabalhos publicados ele se sentia competindo com os demais desenhistas, tudo o que vi nesta serie depois ele praticamente redesenhou em seus trabalhos para a DC e Marvel.

Segundo informações dos bastidores provavelmente a IDWL lançara este ano um album do Ben Casey com todas as tiras e páginas dominicais feital por Neal Adams.

Na minha opinião a melhor historia desenhada por NA foi o da origem do Morcegomem escrita por Frank Robins.

Abraço

Giovanni
Anônimo disse…
Como todos já manifestaram, só tenho elogios para NEAL ADAMS, Seguramente um dos grandes da dos quadrinhos. Traço perefeito, atrativo e dinâmico e enquadramentos inusitados. Admiro-o, não só por isso, mas por sua postura e luta pelos direitos dos artistas e criadores, refletida no resgate de SIMON & SHUSTER em relação a SUPERMAN. NA enquete votei no importante trabalho em BATMAN. André Portocarrero
André Valle disse…
Todas as opções da enquete são trabalhos formidáveis do Neal Adams. Em Lanterna e Arqueiro Verde, ele deu um novo fôlego ao Arqueiro Verde, tanto na atitude quanto no visual, mas votei no Batman pelo seu visual ter se tornado icônico, sendo sem sombra de dúvidas o melhor desenhista do morcegão, seguido por Marshal Rogers.
Anônimo disse…
Parabéns, Roberto.
O Adams é meu idolo maior...ou foi nos anos 70.
O Kubert superou ligeiramente.
Mas ainda considero o Adams o desenhista mais copiado do mundo.
Depois dele todos os artistas de super-herois foram na cola dele...
Até hoje...
Bryan Hith que o diga.
FR
Anônimo disse…
Ele fez de novo....
Boa Guedes. resgatou uma história de bastidores que eu não conhecia, e muito interessante! É quase uma lição de vida, não?
Votei nos Vingadores, pois foi o primeiro trabalho dele que li, e já sabe... Foi paixão à primeira vista!
Até breve!
Andre Bufrem
Wendell disse…
Guedão,

A cada dia aprendo mais sobre os quadrinhos e sua História aqui no Manifesto. Parabéns!
Tá falado! rsrs

Abraços, mestre!

Wendell
Roberto Guedes disse…
Giovanni, muito obrigado por dividir aqui a ótima notícia do relançamento das tiras de Ben Casey.

Aproveito a deixa pra esclarecer que só não relacionei esse material na enquete, exatamente por não ser conhecido de grande parte dos leitores.

Eu, por exemplo, adoro aquelas duas HQs do Thor delineadas por Adams com arte-final de Joe Sinnott. Adams confessou que, ali, quis fazer um genuíno trabalho "Estilo Marvel". E realmente ficou tremendo!

Aos demais chapas, obrigado também pelos preciosos comentários - e pelo jeito, as séries de Batman e Lanterna Verde vão ganhar essa parada.

Abraços!