Todo mundo sabe que o Poderoso Thor é um sujeito meio esquentado e briguento. Que já saiu na porrada com quase tudo quanto é fulano: Galactus, Hulk, Surfista Prateado... e até mesmo com Superman. Pra ele, não tem conversa: se alguém olhar torto, vai levar bordoada... (ops!) martelada.
Entretanto, todos seus antagonistas costumam ser pesos pesados, afinal, o representante viking do lado de lá da ponte do arco-íris não é um sujeito covarde, tampouco mau caráter. No máximo, um pouco rebelde – resultado de uma juventude complicada, devido a um pai possessivo que regulava até com quem o rapagão poderia ou não namorar. Bah... não é à toa que o mancebo se mandou de Asgard e deixou a cabeleira passar dos ombros...
Porém, houve um dia em que o lendário Thor teve de enfrentar um cara bem menos poderoso do que ele. Aliás, dois “carinhas”: Batman e Robin. Isso mesmo! O imbróglio aconteceu há muito tempo, precisamente nas páginas da revista Batman 127 (outubro de 1959), ou na versão brasileira da EBAL Batman 1ª série 96 (fevereiro de 1961). “Mas como...” – você já deve estar indagando, “...se Stan Lee e Jack Kirby só criaram o deus do trovão em 1962?”. Simples, intrepid one, Thor, antes de tudo, é um deus da mitologia nórdica, portanto, qualquer um pode escrever sobre ele. O que vai determina-lo como marca registrada de alguém ou de alguma editora são as particularidades acrescidas à sua base mitológica, que o transformarão em um personagem distinto. Mas isso não vem ao caso agora, pois o mote destas linhas é o encontro do Cruzado Embuçado com um outro Filho de Odin com background bem parecido com o do super-herói da Marvel Comics.
Provavelmente, você já leu em algum lugar que na década de 1950, os quadrinhos sofreram perseguição por parte de educadores, psiquiatras e até mesmo da igreja, sob a alegação de que promoviam a delinqüência entre as crianças e os jovens. Criaram então, um código censor para controlar a violência e sensualidade das HQs, o Comics Code (Código de Ética, aqui no Brasil). Nessa verdadeira “caça às bruxas”, muitos personagens e revistas e sumiram da noite pro dia, e quem permaneceu, teve o enredo de suas histórias bem “suavizados”.
Com Batman não foi diferente. A partir da edição 113 da publicação homônima e de Detective Comics 250, os gangsteres armados de Gotham City deram lugar a criaturas do espaço e criminosos interplanetários. E a deuses mitológicos.
A história de oito páginas “The hammer of Thor” ("O martelo de Thor") é a terceira da revista, e também a de destaque na capa (desenhada por Curt Swan e Stan Key). Na ocasião não era costume creditar os autores, mas pelo estilo do traço, concluí-se que os desenhos são de Sheldon Moldoff, um dos principais nomes do estúdio de Bob Kane na ocasião. Provavelmente, o script ficou a cargo de Bill Finger, mas isso é apenas um palpite...
A trama se inicia com o anúncio de uma tempestade sobre a cidade. A dupla dinâmica se depara com uma visão estranha: um gigante ruivo que se auto-intitula “Thor, o deus do trovão”, e que consegue destroçar o cofre de aço de um banco usando um martelo mágico. Sim, pois, ao ser arremessado, o apetrecho volta sozinho às mãos de seu dono. Obviamente os dois paladinos tentam conter Thor, apenas para serem repelidos facilmente como se fossem mosquitos.
Quadrinho vai, quadrinho vem, e Batman descobre, meio que por acaso, que Thor e o franzino Henry Meke – o curador de um museu de réplicas de armas históricas e lendárias –, são a mesma pessoa. Meke (que podemos entender como um trocadilho para “meek”, “manso” em português), viu um meteorito atravessar a janela do museu e acertar em cheio a réplica do martelo de Thor. Ao tocar no utensílio, as energias cósmicas contidas no objeto o transformaram física e mentalmente em outra pessoa. Com a mente abalada, acreditou ser o personagem da mitologia e passou a acumular tesouros, para erigir um templo de adoração ao "seu pai" Odin.
As transformações ocorriam sempre que trovões prenunciavam um temporal. A psique turbada de Meke entendia aquilo como a “voz de Odin”, e aí, o caos se instaurava. Quando Batman se desviou de uma martelada, que acabou atingindo a caixa de força do edifício, o martelo perdeu seu poder, e Meke voltou ao normal.
Essa aventura jamais ganharia o prêmio Eisner dos Quadrinhos, mas continua a ser, com certeza, deveras interessante por causa de todos esses pequenos detalhes transcritos aqui.
O meteorito atingir um objeto dentro de um prédio lembra a origem de Flash (Barry Allen), enquanto que o fato de um homem fraco se tornar um bólido de poder remete ao Capitão “Shazam” Marvel. Mas apesar desse Thor ser um guerreiro orgulhoso, e de sua arma sempre retornar às suas mãos após ser arremessada, assim como é descrito nas lendas nórdicas e germânicas, não há como evitar comparação com a criação de Lee e Kirby, cuja estréia ocorreu apenas em agosto de 1962, nas páginas de Journey into Mystery 83, não é mesmo?
Ah, uma última coincidência: durante a história, Batman diz a Meke que o tal meteorito fez uma longa “jornada” até chegar a Terra.
© Copyright Roberto Guedes
Entretanto, todos seus antagonistas costumam ser pesos pesados, afinal, o representante viking do lado de lá da ponte do arco-íris não é um sujeito covarde, tampouco mau caráter. No máximo, um pouco rebelde – resultado de uma juventude complicada, devido a um pai possessivo que regulava até com quem o rapagão poderia ou não namorar. Bah... não é à toa que o mancebo se mandou de Asgard e deixou a cabeleira passar dos ombros...
Porém, houve um dia em que o lendário Thor teve de enfrentar um cara bem menos poderoso do que ele. Aliás, dois “carinhas”: Batman e Robin. Isso mesmo! O imbróglio aconteceu há muito tempo, precisamente nas páginas da revista Batman 127 (outubro de 1959), ou na versão brasileira da EBAL Batman 1ª série 96 (fevereiro de 1961). “Mas como...” – você já deve estar indagando, “...se Stan Lee e Jack Kirby só criaram o deus do trovão em 1962?”. Simples, intrepid one, Thor, antes de tudo, é um deus da mitologia nórdica, portanto, qualquer um pode escrever sobre ele. O que vai determina-lo como marca registrada de alguém ou de alguma editora são as particularidades acrescidas à sua base mitológica, que o transformarão em um personagem distinto. Mas isso não vem ao caso agora, pois o mote destas linhas é o encontro do Cruzado Embuçado com um outro Filho de Odin com background bem parecido com o do super-herói da Marvel Comics.
Provavelmente, você já leu em algum lugar que na década de 1950, os quadrinhos sofreram perseguição por parte de educadores, psiquiatras e até mesmo da igreja, sob a alegação de que promoviam a delinqüência entre as crianças e os jovens. Criaram então, um código censor para controlar a violência e sensualidade das HQs, o Comics Code (Código de Ética, aqui no Brasil). Nessa verdadeira “caça às bruxas”, muitos personagens e revistas e sumiram da noite pro dia, e quem permaneceu, teve o enredo de suas histórias bem “suavizados”.
Com Batman não foi diferente. A partir da edição 113 da publicação homônima e de Detective Comics 250, os gangsteres armados de Gotham City deram lugar a criaturas do espaço e criminosos interplanetários. E a deuses mitológicos.
A história de oito páginas “The hammer of Thor” ("O martelo de Thor") é a terceira da revista, e também a de destaque na capa (desenhada por Curt Swan e Stan Key). Na ocasião não era costume creditar os autores, mas pelo estilo do traço, concluí-se que os desenhos são de Sheldon Moldoff, um dos principais nomes do estúdio de Bob Kane na ocasião. Provavelmente, o script ficou a cargo de Bill Finger, mas isso é apenas um palpite...
A trama se inicia com o anúncio de uma tempestade sobre a cidade. A dupla dinâmica se depara com uma visão estranha: um gigante ruivo que se auto-intitula “Thor, o deus do trovão”, e que consegue destroçar o cofre de aço de um banco usando um martelo mágico. Sim, pois, ao ser arremessado, o apetrecho volta sozinho às mãos de seu dono. Obviamente os dois paladinos tentam conter Thor, apenas para serem repelidos facilmente como se fossem mosquitos.
Quadrinho vai, quadrinho vem, e Batman descobre, meio que por acaso, que Thor e o franzino Henry Meke – o curador de um museu de réplicas de armas históricas e lendárias –, são a mesma pessoa. Meke (que podemos entender como um trocadilho para “meek”, “manso” em português), viu um meteorito atravessar a janela do museu e acertar em cheio a réplica do martelo de Thor. Ao tocar no utensílio, as energias cósmicas contidas no objeto o transformaram física e mentalmente em outra pessoa. Com a mente abalada, acreditou ser o personagem da mitologia e passou a acumular tesouros, para erigir um templo de adoração ao "seu pai" Odin.
As transformações ocorriam sempre que trovões prenunciavam um temporal. A psique turbada de Meke entendia aquilo como a “voz de Odin”, e aí, o caos se instaurava. Quando Batman se desviou de uma martelada, que acabou atingindo a caixa de força do edifício, o martelo perdeu seu poder, e Meke voltou ao normal.
Essa aventura jamais ganharia o prêmio Eisner dos Quadrinhos, mas continua a ser, com certeza, deveras interessante por causa de todos esses pequenos detalhes transcritos aqui.
O meteorito atingir um objeto dentro de um prédio lembra a origem de Flash (Barry Allen), enquanto que o fato de um homem fraco se tornar um bólido de poder remete ao Capitão “Shazam” Marvel. Mas apesar desse Thor ser um guerreiro orgulhoso, e de sua arma sempre retornar às suas mãos após ser arremessada, assim como é descrito nas lendas nórdicas e germânicas, não há como evitar comparação com a criação de Lee e Kirby, cuja estréia ocorreu apenas em agosto de 1962, nas páginas de Journey into Mystery 83, não é mesmo?
Ah, uma última coincidência: durante a história, Batman diz a Meke que o tal meteorito fez uma longa “jornada” até chegar a Terra.
© Copyright Roberto Guedes
Comentários
e onde estará este thor nas historias da DC hoje em dia?!
Eu adorava Curtas antigas, lembrei da do hulk n° 3 ou 2 não sei, que conta a historia do Gargola, By Stan e Kirby! Muito legal!
Sempre fiquei encafifado com essa coisa dos seres mitológicos... afinal, mitologia não tem copyright...
O caso do Hércules tb é parecido né?
Junior, até onde sei, Henry Meke nunca mais apareceu nas HQs de Batman, mas John Byrne escreveu sobre um outro Thor na série dos Novos Deuses dos anos 90.
Claudião, é isso mesmo! Há versões de Hércules espelhadas por várias editoras. Inclusive, havia um pela extinta Charlton Comics que chegou a sair no Brasil.
Gian: Exato! Era o Dr. Don Blake. E esse médico manco também remete a Freedy Freeman, o alter ego de muletas de Capitão Marvel Jr. Lembra?
Abraços coletivos!!!
E o Dr. Wertham veria com outros olhos essa imagem, do Thor erguendo o Robin pelo... traseiro :)
Muito bom!!!
Cesar
Borba, esse Thor matusquela aí do Batman não tinha um palavreado estilo Shakespeare, não. Mesmo o da Marvel, não falava desse jeito no começo, quando Larry Lieber escrevia os diálogos. É que a concepção inicial do personagem era a de um humano (Don Blake) que se transformava em um deus. Mais tarde, Lee e Kirby explicaram que Blake era um disfarce. Foi quando a fala de Thor começou a ficar mais pomposa.
O homem do "uru" :)
José Salels
Salles: lembro desse Thor, que seria o "verdadeiro deus do trovão" da DC, não Henry Meke. Jimmy volta no tempo, e salva a vida do filho de Odin.
Abraços!
Abração,
Gabriel Rocha
Esse Thor do Príncipe Viking deve ser o mesmo da minissérie "War of Gods", que por sua vez, é o mesmo dos Novos Deuses do Byrne, que você comentou antes...
Mas é claro que a matéria não diz respeito a isso, e sim, ao encontro do morcegão com esse Thor "falsificado". Muito 10!
Carlos
Mas apenas a título de contribuição, o Thor do Príncipe Viking não é o mesmo Thor do dos Novos Deuses do Byrne. Me baseio nas características visuais, e comportamentais.
Abração,
Gabriel Rocha
Obrigado pelos preciosos comentários. Qualquer informação adicional aos meus artigos é bem-vinda, e serve para enriquecer ainda mais nosso conhecimento.
Adiante, postei uma nota triste: o falecimento de um grande artista do Brasil.
Confiram.