Diz assim o ditado popular: “tudo que é mais difícil é mais gostoso de se conquistar”. Mas bem que a publicação das HQs de autores brasileiros poderia ser mais fácil, não é?
Angelo Agostini - patrono do Quadrinho
Brasileiro
Infelizmente, excetuando-se Mauricio de Sousa, as editoras daqui ainda não dispõem de uma estrutura adequada para colocar uma série de títulos com personagens inteiramente nacionais de uma maneira regular nas bancas. Estrutura psicológica, digo.
Num país em que dezenas de empresas chegam à falência diariamente, os proprietários das editoras não se arriscam em promover apenas o produto brasuca, que, invariavelmente, é desconhecido do grande público, optando, então, pelo dito “material enlatado”. Ou seja: quadrinho estrangeiro – americano, japonês, italiano, etc. –, que, no entendimento deles, é o que pode garantir boas vendas.
No passado foram propostas medidas radicais como leis que obrigavam as editoras a colocar determinada quantidade de títulos nacionais nas prateleiras. Particularmente não acho legal, afinal, ninguém aqui é coitadinho, e nem está pedindo esmola. Nosso direito de publicar é legítimo, mas temos o dever de conquistá-lo! Mas como fazê-lo?
A verdade é que não há uma “fórmula mágica” para isso. O caminho é penoso, mas tenho certeza de que se o autor brasileiro estiver realmente empenhado, ele poderá chegar ao seu destino tão almejado.
Evidente que não basta apenas dominar o claro-escuro, a perfeição anatômica, e as angulações excitantes. Na verdade, não vai adiantar nada o pretendente ao estrelato desenhar mangá, cartum, ou ser cópia-carbono do “artista quente” do momento, se não tiver o mínimo de bagagem cultural.
Não falo exatamente de escola ou faculdade (que também são muito importantes, claro), mas sim, de ler jornais, revistas e livros; de ouvir rádio; de acompanhar o noticiário... enfim, de estar antenado em tudo à sua volta. Ser bitolado não está com nada, meu chapa!
O quadrinista é, antes de tudo, um profuso idealizador, e até mesmo, um formador de opinião. Pode parecer exagero, mas a elaboração de uma história, e a construção dos personagens exige do autor, além de criatividade inata, bastante sensibilidade, responsabilidade, sabedoria e uma boa dose de experiência de vida.
Com todos esses atributos aliados à disposição para se produzir, caberá então somente às editoras bancarem a empreitada. Agora, se mesmo assim estas preferirem ficar amarradas ao produto lá de fora e sujeitas à falta de criatividade que impera atualmente no quadrinho gringo, com certeza vão continuar estupidamente na amarga e retumbante queda de vendas de suas revistas.
Por que não, então, apostar em novos e promissores talentos tupiniquins, hein?
© Copyright Roberto Guedes. Todos os direitos reservados.
Esse texto foi publicado originalmente em 2002, na revista Desenhe e Publique Mangá Especial 1, da Editora Escala, e seu tema, infelizmente, continua gritantemente atual.
Angelo Agostini - patrono do Quadrinho
Brasileiro
Infelizmente, excetuando-se Mauricio de Sousa, as editoras daqui ainda não dispõem de uma estrutura adequada para colocar uma série de títulos com personagens inteiramente nacionais de uma maneira regular nas bancas. Estrutura psicológica, digo.
Num país em que dezenas de empresas chegam à falência diariamente, os proprietários das editoras não se arriscam em promover apenas o produto brasuca, que, invariavelmente, é desconhecido do grande público, optando, então, pelo dito “material enlatado”. Ou seja: quadrinho estrangeiro – americano, japonês, italiano, etc. –, que, no entendimento deles, é o que pode garantir boas vendas.
No passado foram propostas medidas radicais como leis que obrigavam as editoras a colocar determinada quantidade de títulos nacionais nas prateleiras. Particularmente não acho legal, afinal, ninguém aqui é coitadinho, e nem está pedindo esmola. Nosso direito de publicar é legítimo, mas temos o dever de conquistá-lo! Mas como fazê-lo?
A verdade é que não há uma “fórmula mágica” para isso. O caminho é penoso, mas tenho certeza de que se o autor brasileiro estiver realmente empenhado, ele poderá chegar ao seu destino tão almejado.
Evidente que não basta apenas dominar o claro-escuro, a perfeição anatômica, e as angulações excitantes. Na verdade, não vai adiantar nada o pretendente ao estrelato desenhar mangá, cartum, ou ser cópia-carbono do “artista quente” do momento, se não tiver o mínimo de bagagem cultural.
Não falo exatamente de escola ou faculdade (que também são muito importantes, claro), mas sim, de ler jornais, revistas e livros; de ouvir rádio; de acompanhar o noticiário... enfim, de estar antenado em tudo à sua volta. Ser bitolado não está com nada, meu chapa!
O quadrinista é, antes de tudo, um profuso idealizador, e até mesmo, um formador de opinião. Pode parecer exagero, mas a elaboração de uma história, e a construção dos personagens exige do autor, além de criatividade inata, bastante sensibilidade, responsabilidade, sabedoria e uma boa dose de experiência de vida.
Com todos esses atributos aliados à disposição para se produzir, caberá então somente às editoras bancarem a empreitada. Agora, se mesmo assim estas preferirem ficar amarradas ao produto lá de fora e sujeitas à falta de criatividade que impera atualmente no quadrinho gringo, com certeza vão continuar estupidamente na amarga e retumbante queda de vendas de suas revistas.
Por que não, então, apostar em novos e promissores talentos tupiniquins, hein?
© Copyright Roberto Guedes. Todos os direitos reservados.
Esse texto foi publicado originalmente em 2002, na revista Desenhe e Publique Mangá Especial 1, da Editora Escala, e seu tema, infelizmente, continua gritantemente atual.
Comentários
Demais esse parágrafo.
Mark Millar (Supremos, Kick Ass...etc...) é um cara que dá gosto de ler os roteiros dele.
Ele é bem antenado com o que acontece hoje na cultura pop mundial, e sempre que tem uma brecha coloca algum tipo de refrencia a isso em seus roteiros. Dá um certo clima mais real na estória.
Também gostei porque, se você quer escrever um roteiro legal de HQ, não importa o estilo, você deve pesquisar MUITO. Cerca de 90% do trabalho de escrever algo, é pesquisar fundo sobre o assunto abordado.
Ainda assim defendo uma política para o quadrinho nacional. Há séculos, e não décadas, buscamos nossos próprios espaços, e até hoje nada conseguimos. Logo, é preciso uma intervenção política para assegurar nosso direito de publicar quadrinhos. Sei que o tema é polêmico, mas, conforme muito bem esclarecido pelo Edgard Guimarães, em uma das edições do QI, sobre a Lei de cota para as Histórias em Quadrinhos, as "republicadoras" não perderiam o direito de publicar os "enlatados". Creio que você, também, leu esse número.
Portanto, pessoas há muito lutam por uma indústira nacional de quadrinhos, mas esclarecidos, poderiam fomentar opiniões acerca desse tema e observar que todos os gêneros estariam inclusos na cota. Todos teriam a liberdade de publicar os super-heróis brasileiros, ou caubóis, ou gaúchos, ou cangaceiros, ou urbanos, ou mangás, ou ficção científica, magia, terror, ou humor, ou seja lá o que der na telha.
Acredito que a Lei nos ajudariam bastantes. Mas, a meu ver, ninguém pensou nisso. O que entendo é que as pessoas temiam que as "republicadoras" deixassem de publicar seus heróis preferidos, ou seus mangás, ou bonellianos, sei lá.
Como eu disse, é polêmico, mas somente debatendo e chegando a um consenso é que poderíamos atingir nossos objetivos.
Grato.
Abraço.
Andre Bufrem
Isso é positivo, pois denota a importância do tema, independente das opiniões contrárias. aliás, graças a Deus que cada pessoa tem um ponto de vista diferente da outra!
Pegando um pouco de cada um, dá para se formar algo realmente ideal para a grande maioria. É ou não é?
Abraços!
Você sempre levanta polêmica sobre temas importantes da sua área, e isso o torna diferente dos "reles mortais".
Que Deus o abençoe com mais e mais capacidade!
Parabéns!