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"Heróis da TV número 1 era uma porcaria!"

O título acima é uma frase que ressoou em minha mente durante um bom tempo, e a ouvi pela primeira vez quando ainda era um garotão que freqüentava reuniões de leitores realizadas em Sampa City. O autor dela era uma figura muito importante dentro da redação da Editora Abril duas décadas atrás, e até por isso, causou um bafafá danado naquele encontro dominical e ensolarado (ou seria “acalorado”?) de 1987.

Analisando hoje, com olhos maduros, é plenamente justificável tal afirmativa – mas não que eu concorde com a mesma. A explicação do profissional foi a de que os responsáveis pela seleção do material publicado na revista não conheciam os personagens da Marvel Comics, tampouco que suas histórias formavam um verdadeiro emaranhado cronológico que precisava ser rigidamente respeitado para que não gerasse confusão na cabeça do leitor mais desavisado (notadamente, uma grande maioria).

Só pra te localizar melhor, a partir de fevereiro de 1979, a RGE começou a publicar os heróis mais populares da Marvel (confira aqui), como Homem-Aranha, Hulk, X-Men etc. Não querendo ficar atrás, a Abril também correu para garantir um pedaço desse bolo, lançando em junho os gibis Capitão América e Terror de Drácula, e, no mês seguinte, Heróis da TV (título de bastante sucesso usado antes com personagens da Hanna-Barbera).

A edição colossal de 132 páginas coloridas apresentava duas histórias do Poderoso Thor da fase clássica de Stan Lee e Jack Kirby; uma de Punho de Ferro (aqui com o nome certo, já que pela Bloch foi rebatizado como “Punhos de Aço”) de Chris Claremont e John Byrne; e outras de Mestre do Kung Fu por Steve Englehart e Jim Starlin; Surfista Prateado, novamente assinada por Lee com arte de Big John Buscema; e Homem de Ferro (a única realmente fraquinha da edição) da dupla Allyn Brodsky/George Tuska.

Um gibizão e tanto, convenhamos. Mas não em termos editorias, como lembrou o tradutor João Paulo L. B. Martins (Jotapê) ao fanzine Status Quo Comics 1 (maio de 1989): “Quando deram HTV na mão do Hélcio de Carvalho, com as aventuras já selecionadas, ele exclamou ‘Meu Deus! Estas histórias já estão começadas!’”, sem nos esquecermos, claro, que quase todas já haviam sido publicadas no Brasil por outras editoras.

Por causa disso, é que a partir das edições seguintes, alguns desses personagens sofreram uma retroatividade em suas respectivas cronologias, iniciando-as a partir de um momento em que o leitor não se sentisse como que assistindo um filme a partir da metade.

Pouquinho mais à frente, a Abril criaria uma espécie de continuidade própria, adulterando os textos originais, no intuito de amarrar um universo de personagens que, até então, ela ainda não dispunha na totalidade sob suas asas. Mas este é um assunto pra outra ocasião...

Heróis da TV é considerada por muitos fãs como a mais querida das revistas Marvel editada pela Editora Abril, ao lado, suponho, de Superaventuras Marvel (esta sim, concebida anos depois para ser um hit), durando 112 edições em formatinho, até 1988.

E a visão da capa-montagem da primeira edição, destacando o deus do trovão de Keith Pollard e Pablo Marcos ainda causa admiração e espanto aos garotos de 1979 que se recusam a envelhecer...

Tá falado!
© Copyright Roberto Guedes. Todos os direitos reservados.

Comentários

Wendell disse…
Por isto sou seguidor do Guedes Manifesto. :)

Cara, muito bacana o modo como você conta a História das HQ's. Esse é o seu diferencial.

Forte abraço!

P.S.: Votei no HA. Eh! Sou um pouquinho passional. rs
Sandro Marcelo disse…
Mais uma primorosa informação!! VAleu por compartilhar essas coisas conosco, Guedão!!!
Inter-HQ disse…
Você é incrível, Guedes! Não me canso de ler seus artigos...a forma como escreve............sem comentários!

Dá até vontade de me aprofundar mais na leitura das HQs.

Ah...votei, no HA, mas não está computando. Aqui prá mim, aparece "0votos".
Roberto Guedes disse…
Pois é, ocorreu algum problema com o blogger, não necessariamente com o Manifesto. Sei que algo semelhante aconteceu também no blog de outros amigos.

Caso os votos não apareçam até às 12h de hoje, irei cancelar a enquete, mas os leitores podem deixar seu voto aqui nos comentários, como você acabou de fazer Inter-HQ.
Roberto Guedes disse…
Ah, o Wendell também votou no gibi do Aranha. Esse Aranha...
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Sandrão, eu que agradeço a sua participação nos comentários aqui.
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Paulão, meu chapa, sendo assim, cante aquela música do Bryan Adams "Summer of' 69", OK?

Superabraços a todos!
Sandro Marcelo disse…
E para ficar registrado, meu voto vai para a revista Homem-Aranha!
Anônimo disse…
Guedes. Excelente assunto para gastarmos boas horas de papo. O início da publiciação da Marvel (e da DC) pela Abril. este foi um momento editorial muito interessante e deve estar recheado de histórias de bastidores, envolvendo dispuitas entre ediitoras e direitos autorais. Agradeço pela informação que disponibiliiza para nós. E ao mesmo tempo aguardo por mais.
Abração,
Andre Bufrem
claudio.juris disse…
Se ela fosse lançada hoje em dia, com internet e tudo o mais, iam "cair de pau" nele, não é?
Valeu pelo post Guedão, sensacional...
JJ Marreiro disse…
Não quero desmerecer nenhuma publicação mix de heróis, mas a Heróis da TV é uma das revistas que mais marcou minha infancia e adolescencia. Foi esta revista que me fez deixar de ser um leitor ocasional para virar um ávido colecionador.
Apenas Superaventuras Marvel e Heróis em Ação (DC) conseguiram me emocionar tanto quanto a boa e velha HTV.
Na época não me preocupava se as hqs eram diminuídas, tinham páginas cortadas e fatos e textos editados. A única coisa que contava era que se tratava de uma excelente revista com excelentes personagens e cujo valor cabia no meu bolso de garoto.
Não consigo ver nenhuma publicação hoje que possua esse perfil (com tantas páginas, personagens e autores)e que tenha preço e distribuição aceitável.
Excelente texto, Guedes!!!
Giovani Iemini disse…
guedes, somos xarás. é meu 2o nome.

bem bacana o blog. tô relembrando a história das histórias em quadrinhos.
hehehe.
Gerson_Fasano disse…
Eu comprei essa revista literalmente no dia do lançamento, nessa época passava na banca todo dia, na ida ou na volta do colégio. E lembro de ficar com uma pulga atrás da orelha... Marvel na Abril ? Hummmm.... sei não.
Abril para mim era sinônimo de Disney e Mauricio de Sousa, não de Marvel. E confesso que o Coisa marrom, mais o uniforme de pernas de fora do Tocha Humana não ajudaram muito. Mas mesmo assim pensei alo como: "vamos ver os outros números". E confesso que fiquei pra lá de empolgado quando começaram a publicar outros personagens que nunca saíram por aqui, e mesmo os que saíram esperava pelas hqs inéditas.
Hoje olhando essa edição, o Thor na capa é bem imponente, o desenho ajuda, e a mesma ficou bem chamativa. Já no segundo ou terceiro número, após ver principalmente o Capitão Marvel e Shang-Shi, ficava esperando pela nova edição a cada mês.
Heróis da TV foi, para mim, a melhor revista Marvel da Abril. Pela forma como nasceu e foi publicada, e pela minha resistência inicial, só tenho boas lembranças. Afinal eu era um dos garotos de 1979.
Edde Wagner disse…
Ô rapaz, permita eu discordar, acho uma excelente revista! Superaventuras Marvel era melhor, mas enfim...
Ótimo texto.
Eu era um dos leitores que iam ao Centro cultural nos domingos de manhã, fazia parte do Conclave. 1985, 86...
É deste grupo que vc falou?
Abç
Roberto Guedes disse…
Sim, é do Conclave que eu falo, Edde! Mas acho que você entendeu errado um detalhe: quem achava a HTV 1 uma porcaria não era eu, mas o profissional da Abril.

Reveja o artigo com calma - e não deixe de notar que o título está entre aspas, OK?

Abração!