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60 anos da 1ª Exposição Internacional de Quadrinhos

Recebi ontem um e-mail de Franco de Rosa, relembrando o importante acontecimento ocorrido no dia 18 de junho de 1951, nas dependências do Centro de Cultura e Progresso, localizado na Rua José Paulino 64, bairro paulistano do Bom Retiro. Portanto, há exatos 60 anos!

De lá para cá, muita água rolou por debaixo da “ponte” chamada História em Quadrinho, e, creio, vale aqui, uma pequena recapitulação da pioneira empreitada realizada por cinco jovens apaixonados pela Arte Seqüencial naqueles tempos de outrora: Jayme Cortez, Sylas Roberg, Reinaldo de Oliveira, Miguel Penteado e Álvaro de Moya (o único sobrevivente do evento).

Juntos organizaram a tal “Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos” – considerada por muitos, desde então, como a “1a do mundo” –, que deixou estupefatos vários segmentos da sociedade; mas que teve a ousadia de provar que no Brasil havia sim, amantes de HQs. Sem os recursos e facilidades de que dispomos hoje em dia, os rapazes suaram um bocado para conseguirem os contatos dos renomados autores americanos que, por aqui, tinham suas obras republicadas.

Tal proeza, digna de admiração, resultou no envio de várias artes originais assinadas por gente do calibre de Alex Raymond (Flash Gordon), Will Eisner (Spirit) e Al Capp (Ferdinando), entre outros, para a Exposição. Devido ao seu ineditismo, o evento teve até mesmo o reconhecimento da imprensa européia.

Moya, que mais tarde chefiaria várias delegações brasileiras em congressos internacionais de Quadrinhos, trabalharia também na televisão, escreveria vários livros, daria aulas e realizaria palestras; lembra com orgulho e melancolia o ano de 1951: “[...] com exceção dos editores e do público leitor, havia oposição aos Quadrinhos. Eram contra: pais, mestres, padres, escola, imprensa. Somente nós, um bando de ‘moleques’ que queria fazer Quadrinhos, sabia da sua importância na linguagem [...] quem, naqueles tempos de sobrevivência difícil para jovens desenhistas principiantes, poderia defender quixotescamente os malditos quadrinhos ‘responsáveis’ por toda a delinqüência infanto-juvenil? Nós, os heróis fracassados na luta pela legislação em favor da nacionalização dos Quadrinhos – o que valeu uma campanha a mais feita pelos conservadores, acusando-nos de comunistas – e uma batalha pelo reconhecimento dos Comics como uma manifestação artística – o que nos valeu as críticas da esquerda que nos classificou de inocentes úteis da decadente cultura imperialista norte-americana.”

Acredito que todo brasileiro que gosta de gibis – e, independente de qualquer ideal político –, deveria manifestar, de alguma maneira, sua gratidão a Álvaro de Moya e à memória de seus confrades.

© Copyright Roberto Guedes. Todos os direitos reservados.

Você pode encontrar mais informações sobre a 1ª Exposição Internacional nos livros: Anos 50, 50 anos, de Álvaro de Moya (Opera Graphica, 2001); A Saga dos Super-Heróis Brasileiros, de Roberto Guedes (Opera Graphica, 2005); e O Homem-Abril, de Gonçalo Junior (Opera Graphica, 2005).

Comentários

Renato disse…
Merecida homenagem, Guedes. Tenho dois livros do Moya.
Cesar disse…
Num país em que a leitura é desprestigiada pelo próprio governo, e que os quadrinhos ainda são vistos como subcultura, tirando Mauricio que é mais endeusado por seus dotes empresariais do que pela criatividade, seu blog é um oásis de inteligência e bom gosto, caro Roberto. Parabéns pela lembrança desse capítulo importante da nossa história editorial quadrinistica.
Anônimo disse…
Opa... Obrigado, Roberto... e parabéns.
abs
Franco
Roberto Guedes disse…
Olá, "Cabeça Feminina", seu blog é muito legal! Irei sempre conferir as atualizações!
Bjs!

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Franco, Cesar e Renato, obrigado por mais uma visita e pelos comentários!
Abraços!