No decorrer da vida você é obrigado a tomar várias decisões. Às vezes você acerta, noutras tantas você erra. De qualquer maneira, você vai tirar algum proveito dessas experiências.
Pelo menos é isso que se espera das pessoas sensatas.
O que importa, ao final das contas, é como você absorverá esse aprendizado, como isso irá refletir em seu futuro - e determinar, principalmente, sua visão do mundo. O ideal é que você mantenha sempre uma perspectiva boa. Não digo aquele idealismo utópico, beirando a ingenuidade - até pelo fato de que as experiências nos deram a maturidade -; mas um sincero e legítimo otimismo.
Entretanto, se você é daquele tipo que se entrega à amargura e só enxerga as coisas por um prisma negativo, com certeza isso irá ter um profundo reflexo em todas as coisas que fizer... como no seu trabalho, por exemplo. Se no caso, você trabalha com a palavra escrita, é bem provável que seus textos sejam parciais e demasiadamente permissivos.
Antes que me esqueça, não acho errado você opinar em sua obra - muito pelo contrário! -, mas tem de estar clara para o leitor a distinção entre o fato per si e a opinião do autor. Não importa se é positiva ou negativa, se for bem embasada, a opinião enriquecerá o artigo.
Seja digno, jamais manipulador.
Ainda assim, sendo manipulador, você poderá escrever uma reportagem bombástica ou um grande livro, e receber muitos aplausos e prêmios [e com certeza a sociedade adora um escândalo], mas em seu íntimo, você saberá que só se prestou a buscar fontes negativas que corroborassem com a sua visão particular do assunto em questão.
É imprescindível que fique claro (para o leitor) o papel dos personagens em sua reportagem. Existem as testemunhas oculares dos fatos, assim como aqueles que "ouviram falar". Há também os protagonistas dos acontecimentos e parentes, amigos e desafetos deles. Se não ficar evidente o devido peso e interesse particular de cada testemunho, a legitimidade de seu trabalho estará comprometida.
Ou seja, para validar seu maniqueísmo, você vai ignorar praticamente todos os pontos positivos ditos por um ou vários entrevistados e utilizar apenas aqueles detalhes negativos, suas frustrações e neuras... passando ao leitor a meia-verdade dos fatos.
Há um provérbio chinês que diz: "Meia-verdade é sempre uma mentira inteira".
Separei, a título de exemplo equilibrado, alguns trechos do meu livro Stan Lee - O Reinventor dos Super-Heróis, com depoimentos de pessoas que trabalharam na redação da Marvel entre as décadas de 1940 e 1960, e que lidavam diretamente com Stan.
Ao terminar de lê-los, procure julgar com sobriedade e isenção, sem interesse ou simpatia, se tudo é mentira, manipulação ou simplesmente o retrato mais fiel possível de um período da história editorial abordada.
“Ele nunca fez um roteiro na redação, pois estava sempre recebendo pessoas; nem sempre desenhistas, mas gente de negócios. Essa era a função de Stan” - Jack Kirby
“Quando Stan ia pra casa, podia-se pensar que era pra jogar golfe ou bater um tênis. Nada disso! Era o dia de bolar 14 histórias, ou cem, ou quantas fossem! Ele escrevia, escrevia e escrevia” - Stan Goldberg
“Depois que Stan colocava os diálogos nos balões, ficava muito legal! Ele era muito bom com as palavras” - Don Heck
“Eles costumavam rir porque Stan fazia todo tipo de ginástica pra contar suas histórias. Olhando pelo corredor, dava pra vê-lo pulando pra cima e pra baixo e saltando no sofá durante as reuniões pra discutir os argumentos. Ele imitava todos os personagens: mulheres, homens, vilões. Ele era um artista" - John Romita
“Tive a chance de trabalhar com Stan por cerca de seis meses. Trabalhamos juntos na redação, e ele foi tão jovial e aberto com as pessoas como ainda o é hoje em dia" - Steve Englehart
“Meio a meio! Nós criamos tudo meio a meio" - Jack Kirby
“Pra mim, ele sozinho é o responsável por botar os gibis no mapa. Sempre senti isso. Acho que muitas pessoas discordam. Certamente não foi só ele, mas acho que foi um verdadeiro catalisador a esse respeito. É um tipo único" - Sal Buscema
© Copyright Roberto Guedes. Todos os direitos reservados.
Pelo menos é isso que se espera das pessoas sensatas.
O que importa, ao final das contas, é como você absorverá esse aprendizado, como isso irá refletir em seu futuro - e determinar, principalmente, sua visão do mundo. O ideal é que você mantenha sempre uma perspectiva boa. Não digo aquele idealismo utópico, beirando a ingenuidade - até pelo fato de que as experiências nos deram a maturidade -; mas um sincero e legítimo otimismo.
Entretanto, se você é daquele tipo que se entrega à amargura e só enxerga as coisas por um prisma negativo, com certeza isso irá ter um profundo reflexo em todas as coisas que fizer... como no seu trabalho, por exemplo. Se no caso, você trabalha com a palavra escrita, é bem provável que seus textos sejam parciais e demasiadamente permissivos.
Antes que me esqueça, não acho errado você opinar em sua obra - muito pelo contrário! -, mas tem de estar clara para o leitor a distinção entre o fato per si e a opinião do autor. Não importa se é positiva ou negativa, se for bem embasada, a opinião enriquecerá o artigo.
Seja digno, jamais manipulador.
Ainda assim, sendo manipulador, você poderá escrever uma reportagem bombástica ou um grande livro, e receber muitos aplausos e prêmios [e com certeza a sociedade adora um escândalo], mas em seu íntimo, você saberá que só se prestou a buscar fontes negativas que corroborassem com a sua visão particular do assunto em questão.
É imprescindível que fique claro (para o leitor) o papel dos personagens em sua reportagem. Existem as testemunhas oculares dos fatos, assim como aqueles que "ouviram falar". Há também os protagonistas dos acontecimentos e parentes, amigos e desafetos deles. Se não ficar evidente o devido peso e interesse particular de cada testemunho, a legitimidade de seu trabalho estará comprometida.
Ou seja, para validar seu maniqueísmo, você vai ignorar praticamente todos os pontos positivos ditos por um ou vários entrevistados e utilizar apenas aqueles detalhes negativos, suas frustrações e neuras... passando ao leitor a meia-verdade dos fatos.
Há um provérbio chinês que diz: "Meia-verdade é sempre uma mentira inteira".
Separei, a título de exemplo equilibrado, alguns trechos do meu livro Stan Lee - O Reinventor dos Super-Heróis, com depoimentos de pessoas que trabalharam na redação da Marvel entre as décadas de 1940 e 1960, e que lidavam diretamente com Stan.
Ao terminar de lê-los, procure julgar com sobriedade e isenção, sem interesse ou simpatia, se tudo é mentira, manipulação ou simplesmente o retrato mais fiel possível de um período da história editorial abordada.
“Ele nunca fez um roteiro na redação, pois estava sempre recebendo pessoas; nem sempre desenhistas, mas gente de negócios. Essa era a função de Stan” - Jack Kirby
“Quando Stan ia pra casa, podia-se pensar que era pra jogar golfe ou bater um tênis. Nada disso! Era o dia de bolar 14 histórias, ou cem, ou quantas fossem! Ele escrevia, escrevia e escrevia” - Stan Goldberg
“Depois que Stan colocava os diálogos nos balões, ficava muito legal! Ele era muito bom com as palavras” - Don Heck
“Eles costumavam rir porque Stan fazia todo tipo de ginástica pra contar suas histórias. Olhando pelo corredor, dava pra vê-lo pulando pra cima e pra baixo e saltando no sofá durante as reuniões pra discutir os argumentos. Ele imitava todos os personagens: mulheres, homens, vilões. Ele era um artista" - John Romita
"Uma das coisas que aprendi assim que fui contratado
pela Marvel, é que Stan e Steve [Ditko] tinham combinado de não falarem mais um com o
outro” - Roy Thomas
“Creio que o sucesso da Marvel deveu-se à decisão
de Stan em não trabalhar mais com roteiros completos: você chegava nele pra
tirar dúvidas e o cara interpretava os personagens, fazia caretas e poses. Ele era
ótimo" - Herb Trimpe
“Tive a chance de trabalhar com Stan por cerca de seis meses. Trabalhamos juntos na redação, e ele foi tão jovial e aberto com as pessoas como ainda o é hoje em dia" - Steve Englehart
“Meio a meio! Nós criamos tudo meio a meio" - Jack Kirby
“Pra mim, ele sozinho é o responsável por botar os gibis no mapa. Sempre senti isso. Acho que muitas pessoas discordam. Certamente não foi só ele, mas acho que foi um verdadeiro catalisador a esse respeito. É um tipo único" - Sal Buscema
© Copyright Roberto Guedes. Todos os direitos reservados.
Comentários
Vou copiar esse texto pra mim. Só peço que escreva mais, acho que seu blog está muito largado. Antigamente você postava mais.
Abs.
Você leu o livro Marvel A História Secreta, do Sean Howe? Achei o livro muito bom, pela quantidade de informações, me lembrou o Era de Bronze de sua autoria, embora só tratando da história da Marvel.
Só que achei um livro extremamente negativo. Ele apresenta uma perspectiva bem pessimista da Marvel, bem diferente dessa mostrada por quem trabalhou nos anos 60 e que você colocou nesse artigo.
Valdir
Bjs
Às vezes é difícil formar uma opinião, ainda mais apenas lendo poucos textos sobre determinado assunto, ainda mais nesse oba, oba que é a internet. Muitos textos são manipuladores, mas de forma sutil. Caba a cada um analisar os fatos e separar o que é opinião do que realmente ocorreu.
Concordo com o Sandro. Posta mais no seu blog.
Abraço, Andre Bufrem
Não sei se é má fé, ignorância ou a perigosa mistura de ambos.
Mando bem, Guedes, para não variar.
No caso do Stan então muita gente não gosta dele e sempre fica procurando algo para denegri-lo, não importa o quanto o argumento não se sustente frente a uma análise básica.
Mais lamentável é que esse tipo de argumentação parcial se espalha cada vez mais em todo tipo de texto.
Muitos hoje se consideram donos da verdade, mas seu texto é um bom lembrete dos cuidados que qualquer missivista deve tomar.
Que as injustiças continuem a ser combatidas dessa forma civilizada que todos nós concordamos, não só em relação as cometidas contra Stan, mas em tantas outras áreas da sociedade.
O mundo precisa, e o Brasil particularmente, muito mais, de pessoas de boa vontade.
Abraços!
De fato, se você tomar como fonte somente os "dados" negativos sobre qualquer assunto, não estará sendo honesto com seu próprio trabalho e com seus leitores. Simples assim.
Estão aí os depoimentos de vários artistas. A conclusão é individual.
Abraço!
Wendell
Abraços!