Eu estava com um pé atrás com o seriado do Punho de Ferro transmitido pela Netflix. Além do trailer não ter me empolgado muito, os comentários nas redes sociais, de quem já havia assistido a série toda, não eram nada estimulantes.
Alguns diziam que o personagem estava completamente descaracterizado, outros atestavam que o ritmo era lento demais, ou que as cenas de briga eram canhestras - principalmente se comparadas às do seriado do Demolidor.
Entrementes a esses comentários desfavoráveis, também fiquei sabendo das acusações de o seriado fazer "apropriação cultural", simplesmente por ser o protagonista um homem branco usufruindo da filosofia e artes-marciais asiática.
Ao ser indagado sobre esse assunto, o cocriador do personagem nas HQs, o roteirista Roy Thomas, mostrou-se indignado: "Tento não pensar nisso. Meu Deus! É só uma história de aventura. Essas pessoas não tem mais o que fazer do que se preocupar com o fato do Punho de Ferro não ser oriental?", ao que, rapidamente se corrigiu: "Aliás, eu sei que oriental não é a palavra certa hoje", deixando evidente que nestes tempos do politicamente correto há um policiamento exagerado a tudo o que se fala ou escreve.
Thomas tinha razão, pois mal sua declaração apareceu em sites como o Bleeding Cool, um de seus ex-colegas de Marvel Comics, Larry Hama, de descendência asiática, e que também trabalhou na série do Punho de Ferro em 1974 - quando publicada nas páginas de Marvel Premiere - postou em seu perfil no Facebook (em 22/03) a seguinte frase: "Ei, foda-se, Roy Thomas".
Os comentários se avolumaram rapidamente. Muitos curtiram a grosseria de Hama, e alguns poucos o recriminaram pela baixaria. Hama se justificou dizendo que não se chateou por Thomas usar de forma inapropriada a palavra "oriental", considerada hoje um termo pejorativo (ao menos nos EUA), mas sim por Thomas desprezar as pessoas que acusaram a série de fazer apropriação cultural.
Porém, aos poucos, Hama entregou o algo mais que havia em seu coração. Disse que Thomas o desprezou no passado, ao supostamente dizer-lhe que não sabia fazer nada "além daquele treco de arte-marcial". Hama ainda afirmou que Thomas tentou prejudica-lo a ponto de enviar um bilhete a certo editor da Marvel, pedindo para coloca-lo no lugar de Hama em determinado título. E garantiu que esse bilhete está em sua posse até hoje.
Seu colega, o roteirista Fabian Nicieza, ficou perplexo, e jogou um pouco de lenha na fogueira, ao dizer que essa era a hora de Hama mostrar o tal bilhete. Mas também "refletiu" a respeito de Thomas já ter uma idade avançada, e que talvez por isso não esteja mais acostumado a dar tantas entrevistas e a empregar de maneira adequada algumas palavras.
"Ele foi criança nos anos 1940, nos tempos da Segunda Guerra Mundial. Foi criado na área rural do Missouri", e completou com a pérola: "Eu imagino que sua exposição aos asiáticos se limitou à retratação feita pelos pulps, quadrinhos, jornais e demais publicações da época. Ele é fascinado pelos estereótipos das HQs e levou isso para séries como Invasores e All-Star Squadron". Ou seja, no entendimento de Nicieza, idosos interioranos deveriam ficar calados.
Hama, Nicieza... é o seguinte: Roy Thomas é tão racista quanto vocês são inteligentes.
De volta ao seriado, não achei essa ruindade toda que apregoaram, muito pelo contrário. Há um bom equilíbrio entre as cenas de ação e os dramas dos personagens. OK! As motivações do Punho de Ferro ficaram meio confusas, e não havia qualquer lógica naquele lance do seu Chi sumir e voltar toda hora; além dos flashbacks sobre K'un-Lun serem pobres - o que me faz supor o orçamento não ter sido uma belezura.
Por outro lado, os atores estavam perfeitos em seus papéis, notadamente os membros do famigerado clã Meachum. Uma grata surpresa foi a personagem Colleen Wing (cocriada por Hama e Doug Moench), que passou longe de ser apenas o interesse romântico ou sidekick do herói, mas praticamente coprotagonista da série.
Só isso já seria o suficiente para esmigalhar as acusações sem sentido de apropriação cultural. Ora, Colleen, além de mulher é asiática. Em nenhum momento ela se mostrou inferior a Danny Rand, e se virou sozinha em várias situações perigosas - como no capítulo em que enfrentou o seu próprio sensei. Agora é aguardar a reaparição do Punho de Ferro na série dos Defensores.
Alguns diziam que o personagem estava completamente descaracterizado, outros atestavam que o ritmo era lento demais, ou que as cenas de briga eram canhestras - principalmente se comparadas às do seriado do Demolidor.
Entrementes a esses comentários desfavoráveis, também fiquei sabendo das acusações de o seriado fazer "apropriação cultural", simplesmente por ser o protagonista um homem branco usufruindo da filosofia e artes-marciais asiática.
Ao ser indagado sobre esse assunto, o cocriador do personagem nas HQs, o roteirista Roy Thomas, mostrou-se indignado: "Tento não pensar nisso. Meu Deus! É só uma história de aventura. Essas pessoas não tem mais o que fazer do que se preocupar com o fato do Punho de Ferro não ser oriental?", ao que, rapidamente se corrigiu: "Aliás, eu sei que oriental não é a palavra certa hoje", deixando evidente que nestes tempos do politicamente correto há um policiamento exagerado a tudo o que se fala ou escreve.
Thomas tinha razão, pois mal sua declaração apareceu em sites como o Bleeding Cool, um de seus ex-colegas de Marvel Comics, Larry Hama, de descendência asiática, e que também trabalhou na série do Punho de Ferro em 1974 - quando publicada nas páginas de Marvel Premiere - postou em seu perfil no Facebook (em 22/03) a seguinte frase: "Ei, foda-se, Roy Thomas".
Os comentários se avolumaram rapidamente. Muitos curtiram a grosseria de Hama, e alguns poucos o recriminaram pela baixaria. Hama se justificou dizendo que não se chateou por Thomas usar de forma inapropriada a palavra "oriental", considerada hoje um termo pejorativo (ao menos nos EUA), mas sim por Thomas desprezar as pessoas que acusaram a série de fazer apropriação cultural.
Porém, aos poucos, Hama entregou o algo mais que havia em seu coração. Disse que Thomas o desprezou no passado, ao supostamente dizer-lhe que não sabia fazer nada "além daquele treco de arte-marcial". Hama ainda afirmou que Thomas tentou prejudica-lo a ponto de enviar um bilhete a certo editor da Marvel, pedindo para coloca-lo no lugar de Hama em determinado título. E garantiu que esse bilhete está em sua posse até hoje.
Seu colega, o roteirista Fabian Nicieza, ficou perplexo, e jogou um pouco de lenha na fogueira, ao dizer que essa era a hora de Hama mostrar o tal bilhete. Mas também "refletiu" a respeito de Thomas já ter uma idade avançada, e que talvez por isso não esteja mais acostumado a dar tantas entrevistas e a empregar de maneira adequada algumas palavras.
"Ele foi criança nos anos 1940, nos tempos da Segunda Guerra Mundial. Foi criado na área rural do Missouri", e completou com a pérola: "Eu imagino que sua exposição aos asiáticos se limitou à retratação feita pelos pulps, quadrinhos, jornais e demais publicações da época. Ele é fascinado pelos estereótipos das HQs e levou isso para séries como Invasores e All-Star Squadron". Ou seja, no entendimento de Nicieza, idosos interioranos deveriam ficar calados.
Hama, Nicieza... é o seguinte: Roy Thomas é tão racista quanto vocês são inteligentes.
De volta ao seriado, não achei essa ruindade toda que apregoaram, muito pelo contrário. Há um bom equilíbrio entre as cenas de ação e os dramas dos personagens. OK! As motivações do Punho de Ferro ficaram meio confusas, e não havia qualquer lógica naquele lance do seu Chi sumir e voltar toda hora; além dos flashbacks sobre K'un-Lun serem pobres - o que me faz supor o orçamento não ter sido uma belezura.
Por outro lado, os atores estavam perfeitos em seus papéis, notadamente os membros do famigerado clã Meachum. Uma grata surpresa foi a personagem Colleen Wing (cocriada por Hama e Doug Moench), que passou longe de ser apenas o interesse romântico ou sidekick do herói, mas praticamente coprotagonista da série.
Só isso já seria o suficiente para esmigalhar as acusações sem sentido de apropriação cultural. Ora, Colleen, além de mulher é asiática. Em nenhum momento ela se mostrou inferior a Danny Rand, e se virou sozinha em várias situações perigosas - como no capítulo em que enfrentou o seu próprio sensei. Agora é aguardar a reaparição do Punho de Ferro na série dos Defensores.
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Comentários
Um sexto item é o que vc citou do CHI gastar, na logica interna do gibi ele com´partilha o Chi do dragão e não faz sentido esgotar-se!
(Já o conceito de apropriação cultural é idiota demais para ser sequer discutido.)
Ainda assim, acho que foi um equívoco terem usado o Punho de Ferro. Primeiro porque, assim como se adequam aos novos tempos dando um gás a personagens femininos como Colleen Wing, o fato é que, idiota ou não, o discurso social tem mudado. E sempre vai aparecer um bobo para reclamar de Danny Rand.
Por isso acho que teriam feito uma escolha melhor se pegassem o Mestre do Kung Fu, um personagem mais rico, com melhores inimigos — quer inimigo melhor que Fu Manchu? — e um ecossistema mais complexo, com Sir Denis, por exemplo.
No caso de “Punho de Ferro”, eu simplesmente não consegui assistir à série inteira. “Demolidor” é fantástico, “Jessica Jones” é excelente, “Luke Cage” é bom – mas “Punho de Ferro” é simplesmente ruim, a começar pelo elenco de quase adolescentes. A série serve apenas como introdução à série dos Defensores.
Gostei bastante do seriado, apesar de lá por volta do episódio 8 ter dado um pouco de preguiça. Gostei da canastrice do Harold meachum. Lembro de quando conheci o personagem nos anos 80. Era um dos que eu mais amava odiar! Na CCXP estive em um papel com o ator que o interpreta: David Wenham. Gente boa e muito simpático.
Questão de aporpriação cultural: Se o Punho de Ferro fosse oriental a história ia mudar bastante. Muito da pegada da série se dá nas diferenças entre Oriente e Ocidente.
Quanto aos invejosos Hama e Nicieza: apenas lamento pela mediocridade de pessoas tão criativas.
Abração.